domingo, dezembro 18, 2005

Expresso 17.12.05 na "ÚNICA"

A dificuldade de ser pequenino

Uma dúzia de cidadãos anunciou pretender ocupar a cadeira de Belém. Mas não é fácil passar de anónimo a candidato

Manuela Magno e Garcia Pereira (foto abaixo), preparados para a corrida

Pouco falta para que se saiba quais, de entre a dúzia de portugueses, mais ou menos anónimos, que declararam querer ser Presidente da República, irão de facto ter o nome nos boletins de voto, no dia 22 de Janeiro. Até à próxima sexta-feira, os voluntários terão de entregar no Tribunal Constitucional as 7.500 assinaturas que os farão passar das intenções à acção. Entre essa dúzia, Carmelinda Pereira, do POUS, José Maria Martins, que se tornou conhecido como advogado de Carlos Silvino (Bibi), e Manuel João Vieira, mentor dos Ena Pá 2000, e o advogado Garcia Pereira gozam de relativa notoriedade.

Mas muitos dos aspirantes a candidatos, sem apoio de máquinas partidárias, com nomes que os eleitores não fixaram, vão ficar pelo caminho. Outros dizem que conseguirão entregar as assinaturas e passar ao próximo nível, o de candidatos, mas todos se queixam de não terem o apoio de uma organização especializada (ao contrário do que acontece com os candidatos que emergiram dos partidos políticos), nem a atenção dos jornalistas. Mesmo assim, organizam-se.

Manuela Magno, professora auxiliar no departamento de Artes da Universidade de Évora, apresentou a candidatura em Fevereiro de 2004. Foi a primeira pessoa a fazê-lo. Em Agosto deste ano, começou o trabalho difícil e burocrático de recolha de assinaturas para a eleição desta professora universitária de 53 anos, com uma licenciatura em Física Nuclear e doutoramento em Música pela Universidade de Columbia, em Nova Iorque. Na semana passada, Manuela Magno recebia ainda por correio, na sede da candidatura, na zona de Santos, em Lisboa, as certidões (correspondentes às assinaturas recolhidas) passadas pelas juntas de freguesia. Na terça-feira garantia que lhe faltavam apenas 500, uma corrida contra o tempo que esta esquiadora fervorosa garantia ser capaz de vencer. Na sede alugada desde 15 de Julho, revezam-se 24 horas por dia uma vintena de pessoas. Tal como todos os pré-candidatos, Manuela Magno tem uma página na Internet e blogues.

INÁCIO LUDGERO/VISÃO O advogado António Garcia Pereira anunciou no dia 12 de Setembro, na emblemática Casa do Alentejo, em Lisboa, que quer ser Presidente da República. E será outro dos que terá hipótese de passar ao jogo propriamente dito. Afirma que no princípio da semana irá entregar nove mil assinaturas (um superavit de 1.500). Também aqui, há uma vintena de pessoas na equipa de candidatura do advogado, que salienta não emanar do partido que lidera, o PCTP/MRPP. A sede, numa das zonas principais da capital, na Avenida João XXI, é arrendada por um valor simbólico e entre os voluntários encontra-se a mandatária digital (Rita Garcia Pereira, filha do candidato), uma directora de serviços de logística, uma mandatária para a juventude, um responsável pelos colóquios. Mais do que manda a lei, que apenas exige formalmente os cargos de mandatário nacional e mandatário financeiro. Existem ainda brigadas de propaganda a apelar ao voto.

A candidatura «Movimento Independente para Recuperar Portugal», que quer levar Mário Nogueira às urnas, tem sede na Praça Bocage, o lugar mais central de Setúbal, onde os transeuntes ouvem as propostas deste antigo oficial da marinha mercante e professor do ensino superior, mas o resto do país mal o conhece. Mário Nogueira queixa-se de que «os pequenos são ignorados pelos ‘media’», o que o obrigou a um «périplo pelo país para chamar a atenção da imprensa regional». Mesmo assim, acredita que vai entrar na corrida.

Telma Miguel